Memórias da Comunidade Mineira de Rio Maior, 1916-1969 (8)
Desporto
A EICEL e as entidades locais impulsionaram a criação de estruturas associativas que tiveram um papel central no fomento da participação cívica dos riomaiorenses.
Destacou-se neste período o desenvolvimento da prática desportiva com a criação do Grupo Desportivo da EICEL, formado por operários da empresa mineira.
A beneficência serviu ao longo dos anos de mote a desafios do grupo desportivo mineiro, com vista à angariação de fundos para as instituições locais de assistência (figura 23).
Durante o ano de 1945 sucederam-se as partidas do G.D. EICEL, convidando a Rio Maior diversas equipas da região e estabelecendo uma animada rivalidade com o congénere Club Desportivo Riomaiorense. O crescimento do grupo desportivo mineiro, em torno das prometedoras exibições da equipa de futebol, traduziu-se numa crescente adesão da comunidade, que nela reconhecia a representação desportiva do concelho.
Neste contexto, os dirigentes da colectividade decidiram fazer do futebol a sua aposta principal, transformando, em Agosto, o Grupo Desportivo da EICEL no Clube de Futebol Os Mineiros (25).
A Direcção do novo Clube de Futebol Os Mineiros inscreveu, de imediato, a equipa no Campeonato Regional de Futebol (Zona Centro), que decorreu de Setembro a Dezembro de 1945, e no qual a equipa se classificou em 3º lugar.
No decurso da época desportiva oficial, a 1 de Novembro, Os Mineiros inauguraram a sua primeira sede na Rua David Manuel da Fonseca, em edifício partilhado com o Club Desportivo Riomaiorense (figura 24), e no qual funcionaram actividades administrativas da colectividade, salas de jogos recreativos e a escola promovida pela EICEL para funcionários e filhos.
O agrupamento desportivo da EICEL desenvolveu em paralelo com a prática do futebol uma animada actividade cultural na esplanada dos Bombeiros Voluntários de Rio Maior, iniciada no Verão de 1945 com a organização de “festas populares, à maneira alentejana, nas vésperas do S. João e S. Pedro” (26).
Na sequência dos bons resultados obtidos no Campeonato Regional de 1945, o Clube de Futebol Os Mineiros projectou, no primeiro trimestre de 1946, o concelho de Rio Maior num palco onde apenas voltaria a ter representação na década de oitenta – o Campeonato Nacional da 2ª Divisão de Futebol. A prestação desportiva, nesta primeira participação de uma equipa riomaiorense em campeonatos nacionais, não foi brilhante, no entanto, quedando-se pelo último lugar da série.
A inferioridade face a grupos mais preparados não ensombrava o espírito desportivo dos Mineiros que marcavam os encontros disputados com um pouco usual “fair-play”, amplamente reconhecido por adversários como o Torreense. Mereceu grande destaque na imprensa local uma jornada desportiva ocorrida a 17 de Fevereiro, em Torres Vedras, na qual os Mineiros foram homenageados pelos responsáveis locais. Em discurso proferido num banquete servido ao final do dia salientaram-se as virtudes dos “modestos trabalhadores das minas de Rio Maior”: “Nunca um desejo de agressão, nunca uma entrada desleal. Se um adversário caía, logo um mineiro o ajudava a erguer-se e o abraçava. Comportamento assim brilhante e leal não era vulgar no nosso país (…)” (27).
O reconhecimento do empenho de jogadores amadores que, após horas de trabalho diário debaixo de terra, encontravam ainda espírito para treinar e representar Rio Maior durante semanas num campeonato nacional de futebol, estendeu-se à comunidade local, com a organização, a 19 de Maio, de um baile de homenagem na Casa do Povo, animado pela Orquestra Alves Coelho.
A actividade dos Mineiros não se limitava, no entanto, ao futebol, registando-se a introdução de diversas modalidades entre os seus associados, incluindo a natação e o atletismo.
Em Abril de 1947, o Clube de Futebol Os Mineiros reinstalou a sua sede na Rua Salazar (actual Rua Dr. Francisco Barbosa), em edifício alugado com generosas facilidades pelo riomaiorense Joaquim Varela (figura 25), e no qual o C.F. Os Mineiros promoveu o desporto e a cultura popular no concelho de Rio Maior até à década de setenta.
Na sessão de inauguração os dirigentes do clube salientaram, entre todas as dúvidas e sacrifícios, uma “consoladora certeza”: existia a partir de então “um lar” no qual era possível “reunir toda a família mineira” (28).
Em 1948, a capacidade organizativa do clube foi reconhecida pela Câmara Municipal de Rio Maior, que procurava, neste ano, contrariar a redução de afluência ao último dia do grande evento anual da região – a Feira de Setembro – com a criação de um acontecimento desportivo marcante. Surgiu assim o Circuito Ciclista de Rio Maior, patrocinado pelo Município e organizado pelos Mineiros na sua primeira edição, e que marcou a história do desporto local durante cinco décadas.
O I Circuito Ciclista – realizado a 3 de Setembro com assistência técnica do antigo vencedor da Volta a Portugal, José Maria Nicolau (ao qual concorrem 30 ciclistas de 7 equipas, entre as quais os Mineiros e o Sport Lisboa e Benfica) teve como vencedor o Mineiro João Marcelino (29).
Durante o ano de 1949 o clube introduziu a prática do Ténis de Mesa, uma modalidade que alcançou algum protagonismo, reconhecido com a nomeação de um representante do clube, Henrique Pereira Dias Ferreira, como Director da Associação de Ténis de Mesa do Distrito de Santarém.
O carácter precursor dos Mineiros no desporto riomaiorense foi sublinhado, em 1954, com a criação de uma Escola de Educação Física e Desporto, sob direcção do enfermeiro da EICEL, Rogério Soares Louro. A escola tinha como fim “intensificar o interesse dos jovens riomaiorenses pelo desporto e preparar elementos para uma equipa de futebol que, no futuro, possa vir a honrar” (30) Rio Maior, destinando-se a jovens dos 14 aos 18 anos de idade.
Nas décadas de cinquenta e sessenta coube à equipa de futebol de júniores, nascida da escola do C.F. Os Mineiros, assumir a representação do concelho em provas oficiais.
Após o encerramento da Mina do Espadanal, o clube manteve a actividade durante alguns anos, até à sua transformação, em 1976, no actual União Desportiva de Rio Maior.