EICEL1920 - Do nascimento à idade actual
ou de como "o homem sonha, a obra nasce"!
Por Manuela Fialho
Presidente da Mesa da Assembleia-Geral da EICEL1920
Em 29/11/2010 era celebrada a escritura constitutiva da EICEL1920. Não obstante a turbulência do ano, Nuno Rocha, Marcelino Machado e António Carvalho entenderam por bem unir esforços tendo em vista a salvaguarda e valorização do património mineiro, industrial e arquitetónico do concelho de Rio Maior constituindo a EICEL1920 – Associação para a Defesa do Património, sedeada em Rio Maior.
Acabava-se, então, de sair de uma greve geral, realizada cinco dias antes em protesto contra o plano de austeridade imposto pelo Governo. Este foi o ano em que a Europa esteve envolvida numa nuvem de cinza provocada pela atividade de um vulcão na Islândia, o mesmo ano em que Portugal recebeu uma visita papal e que o mundo viveu, emocionado, o resgate de 33 mineiros chilenos.
O projeto associativo assim iniciado assentava já numa manifestação cidadã, realizada dois anos antes, que reuniu 724 subscritores, e que culminou na apresentação à Câmara Municipal de Rio Maior de uma petição pela classificação como património de interesse municipal do conjunto edificado composto pela Fábrica de Briquetes, Plano Inclinado de Acesso às Galerias e Receita Exterior da Mina de Lignite do Espadanal.
Ao mesmo tempo que se constituía e desenvolvia através dos órgãos associativos próprios, foi, desde logo, criada uma Comissão de Antigos Funcionários da EICEL - Empresa Industrial, Carbonífera e Electrotécnica, Lda. que congregou, no seu seio, todos os cidadãos que tivessem prestado serviço nos coutos mineiros concessionados a tal empresa, assim como um Conselho Científico composto por cidadãos com produção científica relevante em especialidades relacionadas com o objeto social, e ainda um Conselho Consultivo onde têm assento os cidadãos que hajam produzido contributo relevante para a salvaguarda e valorização do património mineiro, industrial e arquitetónico do concelho de Rio Maior.
Marcante desde sempre foi o objetivo, desde logo anunciado em programa de ação para o quadriénio 2011-2014, da constituição de um núcleo museológico mineiro mediante a recuperação faseada da fábrica de briquetes da Mina do Espadanal acompanhado de uma proposta de classificação do couto mineiro como património de interesse municipal. Objetivos que continuam presentes, ainda não alcançados, mas, seguramente mais perto da respetiva concretização, embora o segundo tenha, com os desenvolvimentos recentemente emanados da Assembleia da República, visto o seu âmbito ser alargado. Matéria a que nos reportaremos infra.
A execução de tais objetivos vai muito para além da mera reivindicação de proteção e valorização do património local, não se bastando com o exercício lobístico do associativismo, requerendo um constante e profícuo trabalho com entidades locais e nacionais. Trabalho que, paulatinamente, vem sendo executado, nem sempre de forma muito pacífica no necessário confronto com o poder local.
De todo o modo foram sendo dados passos importantes com vista à concretização daqueles objetivos, passos esses traduzidos na realização de um conjunto de iniciativas que foram desde a apresentação de proposta com vista à inscrição do património geológico e mineiro do concelho no Roteiro de Minas e Pontos de Interesse Mineiro e Geológico de Portugal, passando pela recuperação de muito do espólio móvel e arquivístico do antigo Couto Mineiro, parte dele disperso, outra parte localizado, mas não acessível, nalguns casos inexplicavelmente inacessível, e noutros casos vindo à posse da associação através de doações efetuadas por cidadãos conscientes da importância que o mesmo reveste para o futuro espaço museológico.
Nestes passos conta-se a louvável ação no sentido da conservação do património mineiro, ação conseguida através de constantes realizações voluntárias de atividades de limpeza do espaço envolvente da fábrica de briquetes mediante o apoio incondicional da Junta de Freguesia de Rio Maior. Levaram-se a cabo neste interlúdio dez jornadas de limpeza e conservação. E, bem assim, a inclusão, pela Câmara Municipal em listagem de projetos apresentada no âmbito do Quadro Comunitário 2014/2020 da qualificação da Mina do Espadanal e da sua envolvente.
Não descurada, foi também a intervenção municipal no Centro Histórico de Rio Maior, muito concretamente a requalificação levada a cabo com a demolição de edifícios centenários existentes na Praça do Comércio ou ainda o desprezo revelado pela arte, nomeadamente através do depósito de objetos de valor patrimonial na área (coberta e descoberta) ocupada pela antiga fábrica de briquetes.
A preocupação com o Centro Histórico motivou mesmo a apresentação, em 2018, de uma Proposta para a Salvaguarda da Zona Antiga de Rio Maior por se ter constatado que a zona vem sendo, através de obras de iniciativa pública e privada, alvo de intervenções que a descaracterizam a cada passo.
E, muito relevante, desde cedo se conseguiu envolver a Escola Secundária de Rio Maior mediante o desenvolvimento de dois projetos por parte de dois grupos de alunos do 12º ano, projetos esses que se traduziram no levantamento fotográfico do complexo mineiro do Espadanal e na execução de uma maqueta da antiga fábrica de briquetes. Este projeto foi apresentado ao público logo em 2011 durante a realização das III Jornadas do Património Mineiro do Concelho de Rio Maior.
O caminho assim iniciado volta a ser percorrido em 2019, altura em que a escola se classificou em 3º lugar no Concurso 3Digital, iniciativa de âmbito nacional. A classificação assim obtida galardoou um trabalho da autoria de quatro dos seus alunos que teve como tema a conceção de projetos de modelação 3D de edifícios da fábrica de briquetes e do plano inclinado da Mina dos Espadanal.
Aliás, o interesse e empenho da comunidade no desenvolvimento do projeto associativo está bem expresso na circunstância de a sede social se ter vindo a instalar, desde sempre, em edifícios cedidos de forma graciosa por cidadãos riomaiorenses.
Partindo da existência da Comissão de Antigos Funcionários da EICEL, empreendeu-se, durante o ano 2012, numa recolha de testemunhos e memórias da antiga comunidade mineira, assim se logrando obter relevante documentação que permitirá o estudo futuro da realidade riomaiorense no período mineiro. Atividade continuada em 2016 por ocasião da celebração do Centenário da Mina do Espadanal.