O Caminho-de-Ferro Mineiro de Rio Maior ao Vale de Santarém (7)
2. CAMPANHA PELA INTEGRAÇÃO NA REDE FERROVIÁRIA NACIONAL
A rentabilização económica da via-férrea mineira de Rio Maior através do transporte de passageiros e mercadorias será, na segunda metade da década de quarenta, objecto de intensa reivindicação pelas populações da região junto do Governo, com eco na Assembleia Nacional, entendendo-se necessária a sua integração na rede ferroviária nacional, mediante extensão até à Linha do Oeste, num percurso de 25 km.
O eventual aproveitamento do ramal mineiro para o estabelecimento de uma futura transversal entre as linhas de Leste e Oeste foi, como vimos anteriormente, tema de discussão técnica entre as entidades envolvidas na sua construção, prevalecendo por fim o parecer da Direcção Geral dos Caminhos-de-Ferro (DGCF), de 19 de Fevereiro de 1942, determinando que a via se construísse da forma menos dispendiosa possível, prevendo-se a sua desmontagem após o final da Guerra – parecer aceite e subscrito pelo Ministro das Obras Públicas e Comunicações, Duarte Pacheco. O Governo não será, no entanto, insensível às propostas apresentadas pelas comunidades locais e, em Outubro de 1944, já no mandato de Augusto Cancela de Abreu, o MOPC adoptará uma nova abordagem, promovendo novos estudos.
Na sequência da publicação de uma tese apresentada ao I Congresso das Actividades do Distrito de Leiria (documento 1), pelo Chefe de Secção de Via e Obras da CP, António Montês, defendendo a extensão do ramal mineiro de Rio Maior com a construção de um troço até Caldas da Rainha, numa primeira fase, e posteriormente com a construção de um troço até Peniche, o Ministro Cancela de Abreu solicita informação à DGCF (40). Em resposta, obterá do Director Geral a transcrição exacta do parecer emitido em Fevereiro de 1942 (41).
As populações da região não deixarão, no entanto, de fazer-se ouvir. Ainda os comboios não circulavam no ramal mineiro quando o jornal Concelho de Rio Maior dá o mote para a campanha: “a nossa atitude não pode ser de mera expectativa. Há que agir. É necessário convencer a entidade que passar a explorar a linha da necessidade de imediatamente se criar um serviço regular de transportes de passageiros e mercadorias, na medida em que o tráfego o exija ou, pelo menos, nas condições em que as actuais circunstâncias o permitam”. Defende o interesse económico da abertura da linha ao transporte de passageiros e mercadorias, para a agricultura, o comércio e a indústria locais, e termina alertando: “Temos finalmente a linha. Não queiramos, porém, que, construída ela, redunde em nova e fugidia esperança…” (42).
A 15 de Maio, a recém concluída via-férrea de Rio Maior será objecto de uma primeira intervenção na Assembleia Nacional, pelo deputado natural do distrito de Leiria, Dr. Manuel Ribeiro Ferreira. O deputado defende o prolongamento do ramal construído até à linha do Oeste, apresentando esta obra como “problema que, sendo da maior importância para o distrito de Leiria, (…), é também de verdadeiro interesse nacional”. Alegando a necessidade de construção de apenas vinte quilómetros de via que dariam “satisfação a uma das mais antigas aspirações de todo o sul do distrito de Leiria, rica e florescente região no ponto de vista agrícola, industrial e de turismo” (43), apela à atenção do Ministro das Obras Públicas, Eng.º Augusto Cancela de Abreu.
Entretanto, as deficiências da demorada construção do ramal mineiro concorrem para a desconfiança da população em torno das virtudes do seu funcionamento, pouco tempo após a abertura ao tráfego ferroviário. Cerca das 24h do dia 26 de Maio de 1945 ocorre o primeiro acidente mortal, na passagem de nível do Gato Preto, à entrada da vila de Rio Maior. A fatalidade, originada pela “deficiente sinalização da passagem de nível e pela falta das respectivas cancelas” (44), vitima um motociclista, colhido pelo comboio, e o guarda da linha, no seu esforço para evitar a colisão.
A imprensa local especula sobre a existência de um primeiro projecto que defenderia a construção de um viaduto, desnivelando o cruzamento com a estrada nacional, sugerindo-se que a previsão de um tráfego limitado terá estado na origem da não realização da obra. Regista-se que foi suficiente “o reduzido movimento de um comboio ascendente e outro descendente” (45) para a trágica verificação de um erro de concepção. A passagem de nível será posteriormente dotada de cancelas.