O Caminho-de-Ferro Mineiro de Rio Maior ao Vale de Santarém (15)
Num relato empenhado do drama económico e social vivido pela comunidade local no período final da actividade das minas do Espadanal, o director do jornal O Riomaiorense e do seu sucessor Jornal do Oeste, Armando Pulquério, reflecte a preocupação dos riomaiorenses com o futuro do ramal ferroviário. Em carta aberta ao Ministro da Economia, José Gonçalo da Cunha Sottomayor Correia de Oliveira (1921-1976), publicada em 24 de Abril de 1965, o Jornal do Oeste assinala, na sua descrição da grave situação das minas, a redução da circulação ferroviária a uma “quase inactividade” (110), solicitando a tomada de medidas urgentes para a recuperação económica da empresa mineira e fazendo votos para que possa voltar a ouvir-se “dentre em breve e diariamente, ecoar por Rio Maior e suas redondezas a estridência alegre do apito do comboio” (111).
Paradoxalmente, em simultâneo com a diminuição da actividade da Mina do Espadanal, aumenta o volume das reclamações de proprietários locais por danos causados pelas poeiras geradas no processo de secagem e transporte da lignite, que se faziam sentir há cerca de dez anos, com o envio de exposição ao Ministro da Economia (112). Em despacho do Secretário de Estado da Indústria de 27 de Julho de 1965, é determinada, entre diversas outras medidas, a execução a curto prazo das seguintes obras no cais e no ramal da via-férrea para redução do impacto das poeiras a um mínimo possível:
"– Construção de silos de armazenagem no cais de caminho de ferro de forma a permitir a carga directa dos vagões.
– Construção de transportadores fechados desde as bocas das tremonhas de carga da oficina de secagem até aos silos do cais.
– Arranjo do cais numa zona restrita, com protecção dos ventos dominantes. O pavimento não deve ser térreo para permitir a sua limpeza e evitar acumulação de pó que pode ser levantado pelo vento.
– Estabelecimento de uma cortina de árvores de grande porte e folhagem perene, encostada à via de forma a defender a povoação das poeiras que nunca será possível eliminar totalmente" (113).
Teriam já reduzida utilidade as medidas preconizadas para o melhoramento das infra-estruturas ferroviárias naqueles que seriam os derradeiros quatro anos de lavra mineira dos carvões em Rio Maior, nos quais os transportes se realizaram maioritariamente por veículos automóveis pesados.
Em jeito de lamento periódico, o Jornal de Oeste lembrará, durante os anos de agonia da actividade mineira, em artigos espaçados por alguns meses, o estado de abandono da via-férrea. Logo em Julho de 1965, Armando Pulquério considera a paralisação da via-férrea uma situação de “lesa-economia” (114), descrevendo, em artigo que merecerá transcrição na imprensa diária de Lisboa, “um ar de abandono por toda a silenciosa linha, já vicejando, entre os carris e as chulipas de madeira, ortigas, ervas de várias espécies” (115). Expressa a convicção num “futuro de actividade permanente”, com base no argumento de que a produção mineral, florestal, agrícola e industrial de Rio Maior “poderá, por si só, encarregar-se de não deixar descansar os comboios na nossa linha” (116).
Passado cerca de um ano sem a abertura de possibilidades de rentabilização da via-férrea, o director do Jornal do Oeste interpela o Ministro da Economia, em artigo intitulado “Linha Estéril” (117), publicado em 7 de Maio de 1966, onde sublinha os prejuízos causados à economia nacional pela paralisação da via-férrea, questionando a razão pela qual esta é mantida em inactividade num concelho em pleno crescimento económico, no qual se regista um aumento significativo do tráfego de veículos pesados para exportação das mercadorias produzidas, em estradas “impróprias da época, sinuosas e estreitas” (118).