O Caminho-de-Ferro Mineiro de Rio Maior ao Vale de Santarém (11)
Acresce a este conjunto de insuficiências a deficiente execução das obras existentes e o desgaste do material de via proveniente de reutilizações:
“(…) os aterros, muito recentes, não estão consolidados; na maioria das trincheiras continuarão, por largo tempo, os desmoronamentos; o balastro, duma forma geral é terra; a drenagem da via carece de acentuada melhoria; os carris – de 8 m/ 30 kg – são de 1887, apresentam grande desgaste e são sujeitos a fracturas: seria preciso, pois, recargar aterros durante bastante tempo, remover terras caídas, revestir trincheiras, melhorar aquedutos e valetas, estabelecer novas drenagens, balastrar convenientemente e substituir bastantes carris” (69).
Perante as circunstâncias apresentadas, e tendo em conta o reduzido preço legalmente estabelecido para o transporte das lignites, a CP entende que a incorporação do ramal na rede explorada pela companhia resultaria desvantajosa. Relembrando parecer emitido em 1942, no qual, já então, era declarado o desinteresse pela exploração directa da via-férrea mineira, o director da CP expõe em conclusão que se o ramal existente “devidamente consolidado, guarnecido e apetrechado com todos os elementos convenientes a uma exploração em condições normais, fosse prolongado nas devidas condições até à linha do Oeste (Caldas da Rainha), essa transversal entre as linhas de Leste e Oeste poderia fazer objecto de uma nova concessão que a Companhia aceitaria, pois que, apesar de essa transversal não lhe trazer vantagens económicas, é, sem dúvida, de grande interesse público” (70).
A nível local, o jornal Concelho de Rio Maior continua a sua campanha em Abril, em reacção à presença na vila de três engenheiros da CP, que visitam o Grémio da Lavoura e conferenciam com o Presidente da Câmara Municipal, para estudo das condições económicas da região (71). Neste mês consta que estará para breve o transporte de todos os tipos de mercadorias pelo ramal ferroviário (72). Ver-se-á, no entanto, que o prazo da solução se alonga indefinidamente. Em Maio temos registo da completa cessação do transporte de mercadorias do Vale de Santarém para Rio Maior (73).
Os representantes políticos da região tomarão a seu cargo a iniciativa de mobilizar as populações em torno da defesa do projecto de extensão do ramal mineiro de Rio Maior, estabelecendo a transversal entre as Linhas de Leste e Oeste. Promovida pela Câmara Municipal de Caldas da Rainha, decorre nos meses de Julho e Agosto a subscrição, pelas entidades e cidadãos da região, de uma Representação apoiada pelos Deputados dos círculos de Leiria e Santarém, a apresentar ao Ministro das Obras Públicas e Comunicações (74).
Durante o ano de 1946 prosseguirão, de facto, os estudos nas repartições da DGCF, sob determinação do ministro Augusto Cancela de Abreu. Impõe-se, no entanto, um diferendo entre duas soluções de ligação à Linha do Leste: a manutenção do troço Entroncamento Espanhol – Vale de Santarém ou a construção de novo troço entre o Entroncamento Espanhol e o Setil.
A 9 de Novembro, a 2.ª Secção de Estudos e Construção da DGCF subscreve informação técnica sintetizando todos os dados do problema e produzindo um relatório das objecções de carácter militar colocadas ao projecto pela Comissão Superior de Caminhos de Ferro do Ministério da Guerra (75). A informação será rectificada e subscrita pelo Engenheiro Chefe da 4ª Repartição, alguns dias depois (76).
O estudo tem presente que “a função principal da linha de Rio Maior é estabelecer a ligação directa da Linha do Oeste com a do Leste e com o Alentejo”, e sublinha que “se deve tomar sempre a estação de Setil como ponto de referência das distâncias, por não parecer aceitável, salvo melhor opinião, que se vá criar uma segunda estação de entroncamento com todas as instalações necessárias a pouca distância do Setil” (77).
Neste contexto defende-se o privilégio da solução Entroncamento Espanhol – Cartaxo – Setil, cujo percurso é o mais curto na ligação ao Setil (19 km contra 22 km da solução Entroncamento Espanhol – Vale de Santarém – Setil) e oferece vantagens sob o ponto de vista da constituição geológica dos terrenos que não apresentam a extensa área de escorregamentos de terras verificada ao longo do traçado ao Vale de Santarém. A solução preconizada resulta, no entanto, em prejuízo para as ligações a Santarém, que vêem a distância desta cidade ao Entroncamento Espanhol aumentada para 37 km na ligação via Setil, por oposição aos 20 km do traçado existente. Os técnicos entendem, no entanto, que o tráfego no sentido da capital de distrito não será significativo.
Verifica-se uma equivalência dos comprimentos virtuais (78) das duas soluções, com ligeira diferença favorável ao traçado pelo Vale de Santarém, e que será posteriormente confirmada em ofício de 22 de Novembro (79).