top of page

O Caminho-de-Ferro Mineiro de Rio Maior ao Vale de Santarém (10)

 

 

 

 

 

Verifica-se, com naturalidade – tendo presentes os objectivos que haviam informado a construção – a necessidade de realização de “importantes obras” (62) para que o ramal possa ser integrado na rede ferroviária nacional, nomeadamente a “rectificação de traçado para aumento do raio de algumas curvas”, a “construção de edifícios de passageiros, casas de guarda e de partido, cais, plataformas, etc.”, a “supressão de algumas passagens de nível e melhoria das condições de visibilidade de outras menos importantes” e a execução de “importantes obras para a melhoria das condições de drenagem das águas pluviais e consolidação de aterros e taludes das trincheiras” (63).

 

Regista-se, no entanto, em abono do aproveitamento do ramal, que parte das anomalias verificadas se devem à “desfavorável constituição geológica dos terrenos no troço entre o Vale de Santarém e o chamado Entroncamento Espanhol” (64), pelo que, no caso dos restantes estudos a realizar certificarem as vantagens de ligação da nova linha à estação do Setil, não devem estas dificuldades obstar ao prosseguimento da obra, prevendo-se o abandono do troço em questão.

 

A 4.ª Repartição da DGCF conclui a sua análise com uma chamada de atenção para a localização da estação de Rio Maior. O cais existente junto à Mina do Espadanal (figura 7), pela sua implantação a norte do aglomerado urbano, limitando a continuidade da via devido ao obstáculo colocado pelo maciço calcário da Serra dos Candeeiros, deverá ficar servido por pequeno ramal ligando com nova estação a construir a sudoeste da vila de Rio Maior, tal como previsto no projecto da linha Setil – Peniche.

Na sequência de despacho do Sub-secretário de Estado das Comunicações (65), a Companhia dos Caminhos-de-ferro Portugueses (CP) é também ouvida neste processo. Em ofício de 3 de Abril, o Director da CP expõe as considerações suscitadas pela “pretendida incorporação do ramal mineiro de Rio Maior na rede explorada por aquela companhia” (66).

 

Analisa-se a exploração deficitária do ramal sob o ponto de vista comercial, com uma corrente dominante de tráfego no sentido descendente, escoando para o Vale de Santarém as lignites de Rio Maior e madeiras da região, verificando-se, no sentido ascendente, uma entrada no ramal, entre Abril e Dezembro de 1945, de cerca de 6900 vagões, na sua maioria vazios – com a excepção de alguns transportes ocasionais de adubos – destinando-se desse número cerca de 2800 vagões para transporte de lignites, lenhas e toros para a própria CP.

 

Reconhece-se que os objectivos limitados que presidiram à construção da via estão na origem de deficiências “que obstam a uma exploração comercial em condições razoáveis” (67). É generalizada a falta de instalações, equipamentos e sinalização:

Assim, a estação de Vale de Santarém está desprovida dos elementos e condições exigidos para uma estação de transmissão. Em vez das despesas a fazer nela, talvez fosse preferível transferir o terminus do ramal para a estação de Setil, já de si um entroncamento da linha de Leste e que está dotada das instalações necessárias para esse efeito. Além disso apontam-se, como deficiências mais importantes do ramal, a falta de sinalização e de edifícios de estações ou apeadeiros, de linhas de desvio e de resguardo, de instalações e aparelhagem para o serviço público, e falta de cais e seus anexos, e de aparelhos de manutenção.

Faltam também edifícios para residências e dormitórios, tanto para o pessoal da Exploração como para o de Via e Obras e de Tracção, e ainda – pelo menos num dos seus terminus – o reservatório de água de alimentação de locomotivas, gruas, tulhas para combustível, placa de inversão de locomotivas e tudo o mais exigido pelo serviço de tracção”  (68).

(62)

[Informação da 4ª repartição da DGCF sobre estudo de incorporação do ramal mineiro de Rio Maior no sistema ferroviário nacional]. Lisboa, 18 de Março de 1946. 5p. ARQTT, pág. 3.

(63)

Idem, ibidem, pág. 4.

(64)

Idem, ibidem, pág. 4.

Figura 7 - Cais da via-férrea Rio Maior - Vale de Santarém. Postal Ilustrado da década de 40. © Colecção António Machado Feliciano Júnior, Arquivo EICEL1920.

(65)

[Despacho manuscrito pelo Sub-secretário de Estado das Comunicações concordando com solicitação da DGCF de disponibilização do projecto do ramal mineiro de Rio Maior para apoio ao estudo da sua incorporação na rede geral, e determinando que se ouça também previamente a CP]. Lisboa, 14 de Fevereiro de 1946. 1p. ARQTT.

(66)

[Ofício enviado pelo Director da CP ao Director Geral de Caminhos de Ferro expondo as considerações suscitadas pela possível incorporação do ramal mineiro de Rio Maior na rede explorada por aquela companhia]. Lisboa, 3 de Abril de 1946. 4p. ARQTT.

(67)

Idem, ibidem, pág. 2.

(68)

Idem, ibidem, pág. 2.

bottom of page